EU ESTIVE EM COMA POR MUITO TEMPO

Agora estou acordada ou estou em sono leve, mas penso, até quando? Pois eu estive em coma por muito tempo.

Vivi minha vida como se cada suspiro fosse uma maratona, buscava realizar sonhos gigantescos, irrealizáveis, porém nunca acreditei em utopias. Realizei!

Após essa guerra insana e incessante por coisas pequenas, mas para mim gigantescas ficou o vazio.

Sem propósito, sem fé em nada, sem perspectivas.

Eu acreditava que se estudasse o máximo possível poderia mudar a vida da minha família.

Durante toda a minha adolescência vaguei pela vida perseguindo este sonho que a forma de romper um ciclo familiar de hipossuficiência, fui mais mãe do filha e irmã.

Contudo, estudar não é tudo, a jornada é muito mais longa, as dificuldades são muito mais severas.

Não existe controle no mundo, minha vida não está totalmente sob meu controle, pois dependo do outro (do próximo), de oportunidades, de resoluções, de uma escuta empática, de um abraço sincero, de um amor verdadeiro, de interesses genuinamente despreocupados, de paz.

Vivi como se estivesse em uma guerra.

De certa forma eu estava, mas guerreei contra mim mesma, auto infringi ofensas, desrespeitos e dor. Sofri pelos outros, fui magoada.

Fui minha pior inimiga, meu único consolo, meu ombro inimigo, meu próprio obstáculo quanto acreditei piamente que obtinha o total controle sobre minha vida.

Um dia na infância fiquei totalmente sem controle sobre minha vida, não podia me mexer, respirar, estava a mercê da vontade alheia, não tinha domínio sobre meu corpo, o pânico se instalou e nunca mais foi embora, perder a autonomia daquela forma me mudou e acredito que essa mudança perdurará para sempre.

Foi feito um molde de mim, mas não foi eu que moldei, o trauma dominou meu ser sem que eu tivesse maturidade para entender isso, o que foi corroendo minha alma pedaço por pedaço até sobrar somente um esboço de quem eu poderia ser, ter sido.

Sinto-me como se fosse um retrato desgastado pelo tempo, um desenho inacabado, sinto que fui interrompida pelas escolhas dos outros, um animal ferido, com uma chaga incurável profunda que me deixa no passado, aprisionada.

Este descontrole me fez procurar controlar todo o meu destino, mas o mundo é uma reunião de acasos, é impossível controlar qualquer coisa e cada ato do universo que não estava sobre meu domínio abria mais a ferida na minha alma.

Tornei-me tudo que eu nunca pensei que seria, um vulto sem consciência de si mesma, alguém que não reconhecia, ainda não reconheço.

Célle de Lima

#controle #autoconhecimento #traumas #depressão #pânico 



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