#DIÁRIO: O Luto
Aquela dor vívida, desesperadora, uma dor tão sentimental que a sentimos fisicamente, dilacerante.
Restam somente lembranças de uma época que não volta mais, de acontecimentos cotidianos que não demos muita atenção no momento em que vivemos.
Um cheiro da pessoa amada, a textura da pele, dos cabelos, a sensação de um tocar de mãos, de um abraço.
O soar da voz da pessoa amada em contato com nossos ouvidos, os calos e a pele das mãos ao tocarem a nossa.
O sabor da comida predileta da pessoa perdida, o tom, as nuances da face.
O jeito, as roupas, o vocabulário, tudo que identificamos em outras pessoas nos fazem recordar, a saudade toca a alma, as lágrimas tocam o nosso rosto, o coração enche de ternura, depois de magoa pelo que não foi vivido, por fim, de saudade pura e simples, de tudo, até do que não percebemos, até do que foi ruim.
Memórias de um amor que suplanta as tessituras dos gênios e se assenta no sonho de um possível reencontro, o luto.
Célle de Lima
(texto em homenagem à meu avó Raimundo e a meu tio Geraldo)
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