Anjo de Guarda

Nasceu rápido, um susto, uma correria, alguns gritos, pulmões cheios, vida!

Um presente repentino, uma surpresa, um susto, temor, tristeza, alegria, era minha incumbência sua guarda e proteção.

Olhei-a, vi olhos grandes, pele pálida coberta de placenta, esperteza e espanto, um mundo novo se abria aos seus olhos, lúgubre sensação, senti mais uma vez, entre milhões de vezes, a vida.

Naquele hospital comum via diversos outros como eu, portando suas armas de amor e perseverança, vi dor e perda, despedidas e medo, vi outros diferentes de mim levando e não trazendo, um lugar de vida e de morte.

Fiquei de guarda, um suspiro meu, um dia dela, o tempo é relativo, a humanidade flui se inicia e desaparece, se reconstrói sob a observação dos meus olhos, vidas e mortes, sou guardião da vida.

Desta vez guardo ela, um ser comum como tantos outros que já guardei, nada de tão especial, singular como os outros, mas comum em suas características como as Lúcias, Vanessas, Mohammeds, Joãos, Eustáquios, Marias, Josés, Alis, e tantos outros. 

Conto esta história como alguém conta como seu cachorrinho aprendeu a pular o muro, como o esquecimento de um fogão acesso que quase causou uma tragédia, ela é um ser corriqueiro. 

Ela abriu os olhos como quase todos os outros, alguns nem sequer os abriu e já foram levado por outro igual a mim, mas diferente.

Ela chorou a plenos pulmões em alto e bom som, anunciando a mim sua chegada, me olhou tão profundamente que quase pensei ser humano, não é raro que crianças me vejam mas sempre esquecem, agora, quase sempre.

Espreitei, me apressei, acolhi, deixei cair e levantei do chão, deixei a vida ensinar, acalentei quando a lição foi muito rígida, vinte e sete anos, quase uma suspiro na minha cronologia, ordinariamente comum, como todos os outros que guardei, não esqueci, mas deixei passar.

Ordinariamente comum.



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